Sem perdãoChoque violento foi o que me provocaram as imagens de sofrimento do Papa João Paulo II a fazer-me lembrar o martírio de Cristo. Violento foi ainda assistir às suas desesperadas e pungentes tentativas para nos dizer não sabemos o quê.
Ao vê-lo, senti como se de repente tivesse estalado uma tempestade assustadora e eu a estivesse a observar, amedrontado, por dentro dos vidros da janela; e, à medida que a borrasca ia aumentando, era como se os relâmpagos, as faíscas, os traços luminosos da tempestade riscando os céus se misturassem com as dúvidas, as ideias, os receios, os pensamentos que me provocavam e atravessassem os vidros da janela e começassem a entrar, casa dentro, inundando tudo; e eu fosse andando, no meio de tudo aquilo, tentando dar-lhe sentido à luz do transcendente e a perguntar-me:
-Serão estas imagens as de João Paulo II no acto de contrição e de entrega da Sua alma a Deus às portas do Paraíso?
-Ou será um acto de desespero de Deus a castigar, à vista de todos, o pecador que o traiu invocando em vão o Seu Santo Nome?
- Ou será antes o acto de desespero, não de Deus, mas de João Paulo II já nas vascas da morte a querer dizer-nos, a querer pedir-nos perdão por nos ter enganado, porque, tendo duvidado sempre, tinha agora a certeza de que Deus não existia?
Mãe... lembras-te de quando à noite eu ficava sozinho e tinha medo dos sons vagos, dos passos e das vozes ciciadas que vinham da escuridão? Já velho, continuo a ouvir as mesmas vozes, segredadas, os mesmos sons difusos de passos… a virem ter comigo… é a morte mãe… tenho medo. Querida mãe que estás no Céu... tu que nunca me mentiste, diz-me que Deus existe, diz-me mãe, ainda que me mintas… diz-me que sim, mãe, diz-me que Deus existe...
Mãe… tenho medo.
Fumo brancoTerminou finalmente o “big-show” da Igreja. Entre a morte de João Paulo II e a “eleição” do novo Papa decorreu o espaço de tempo indispensável para os lobbies dos poderes terrenos poderem formalizar o resultado dos seus jogos secretos e das suas golpadas do costume.
Sendo de todo evidente que, muito antes do fumo branco já tinha sido assegurada, sob a batuta de João Paulo II, a sucessão do seu favorito dilecto: Bento XVI.

Mãe.
Que vai ser dos Humildes, dos Esfomeados, das Crianças?... e das Mulheres, Santo Deus?
Mãe. Tenho medo…