MEUS QUERIDOS NETOS,
Rita Dinis

Pedro
Hoje li no DN (…é todos os dias assim) a notícia de primeira página e sabem o que, sem pensar, me ocorreu? Vejam:

A seguir vi a primeira página do Público e sabem qual foi o comentário que, para mim mesmo, me saiu? Vejam:

QUASE?
E por ora tenho que ficar por aqui. Mas prometo que na segunda-feira venho cá continuar a falar com vocês. Até segunda, o Avô Salvador.
Foto de Sandra e seu miúdo Caio, que está a fazer gracinhas com os olhos esbugalhados.
De: Sandra Regina Prata
Para: Salvador Prata
Enviada: Terça-feira 24/10/2006 – 20h54
Prezado Salvador, daqui do Brasil te envio meu abraço carinhoso pelo dia do teu aniversário, e desejo-te muita saúde, com inúmeros momentos de felicidade e alegria.
Sandra Prata
Em qualquer direção que percorras a alma, jamais tropeçarás em seus limites.SANDRA.Desculpa só agora vir agradecer-te o e-mail que me mandaste quando fiz 84 anos. Não sei o que dizer mais, quanto ao que sinto, que tu não saibas já; e haja necessidade de te dizer outra coisa que não seja: Obrigado.
Aproveito o ensejo para te contar o que, há quatro ou cinco dias, aconteceu e me intrigou: - é que, no Site Meter do Buba, apareceu, sem que nada o justificasse, um número de visitantes inusitado: mais de 1.200 num só dia, quando a média diária do meu blog, como podes ver pelo gráfico, é bastante mais modesta e praticamente sem significado.

E por isso mesmo e pela surpresa, perguntei ao meu neto, que tem 33 anos e está perfeitamente actualizado (e também tem um blog individual na Net, “
A Praia”, e colabora no site “
5 Dias”), se percebia o que estaria a acontecer. Esclareceu-me e fiquei então a saber que o número excepcional de visitantes do “meu” Buba nada tinha afinal a ver com ele. Indirectamente porém, o incidente teve a virtude de recordar-me a falta em que estava para contigo: a de te agradecer o e-mail que me tinhas mandado há um mês por motivo do meu aniversário… E porque há muito que não falamos, deixa-me que aproveite a oportunidade para te contar um pouco do que sei, ou julgo saber e desde quando, do Brasil: não propriamente das suas belezas naturais únicas no mundo, mas das pessoas, da sua maneira de ser e da maneira diferente de viver a vida. E vou contar-te como tudo começou:
Andava eu em Letras e estava na Rás-Teparta – uma República de estudantes das mais antigas de Coimbra – era o ano de 1943 – e a certa altura, apareceu lá, um rapaz brasileiro, também estudante, que tinha vindo de visita a Portugal para conhecer a terra onde o avô tinha nascido.
Naquela altura passavam pela República, poetas, artistas, actores de teatro e do cinema, políticos, pensadores, vindos principalmente da Europa e dos Estados Unidos, que queriam conhecer Coimbra e a sua velha Universidade… O moço brasileiro era porreiro: falámos, andámos juntos, bebemos uns copos de Licor Beirão… Alinhou bem e, como era fatal, tornámo-nos amigos. E, como também não podia deixar de ser, trocámos impressões sobre a maneira como foram iniciadas e se mantiveram, tão fortes e durante tanto tempo, as relações entre portugueses e brasileiros… E gostaria de dizer-te da ideia, que desde essa altura me ficou, de que o Brasil tinha sido descoberto por acaso por um sujeito chamado Cabral que, certamente não tinha mais nada que fazer e andava a navegar… Ou talvez porque isto aqui, em Portugal, era já, nesse tempo, o que sempre foi (e continua a ser: - uma autêntica desgraça); e o Cabral, chateado – e certamente farto desta choldra – andava a navegar a ver se conseguia encontrar um sítio decente para viver… E teve sorte.
……………………………………..........
…Entretanto, o meu amigo brasileiro tinha ido à vida dele: a conhecer a terra onde o avô tinha nascido. Mas quando voltou, passados dois ou três dias, vinha triste, chateado, desiludido...
Dentro de dois ou três dias – não prometo – quando tiver um pouco mais de tempo, virei continuar a falar contigo para te dizer o que aconteceu depois entre nós, os da República, e o nosso novo amigo brasileiro que tinha descoberto Portugal e os portugueses.
Um grande abraço para ti e um beijinho para o Caio.
Do teu amigo e teu “avô”, por afinidade do apelido que nos veio ao nome, sabe-se lá de onde e desde quando… Buba.