Buba
08 agosto 2008
                                                                                                 
O ENGARRAFAMENTO

ERGO SUM?


Cansado de esperar – e sobretudo farto de viver – na merda que, no fundo, é este mundo –, um destes dias, enchi-me de coragem, E perguntei à Virgem Maria se me podia dizer, se soubesse, quando é que eu me livrava, de vez, de toda esta fantochada e embarcava, finalmente, desta para melhor… E, aproveitei ainda para lhe dizer que não achava justo, que Deus não tivesse já mandado dar por findo o castigo que me deu de continuar vivo, dado que eu próprio já reconheci estar ultrapassado e preparado para ir para o outro mundo.

…Sabes, Salvador, disse-me a Virgem Maria, baixando a voz de tal maneira – e ciciando-me as palavras ao ouvido que mal percebia o que me dizia:- Deus sabe perfeitamente que tu estás, não só ultrapassado, como balhelhas e gagá de todo… Sabe, portanto que há muito tempo já, devia ter despachado o teu caso. Ainda assim, pediu-me para te dizer – para que saibas que não tem nada de pessoal contra ti – que a razão da demora, tem sido só porque:- o Céu, apesar de Infinito – dada a demência que neste momento está a avassalar o mundo – não tem capacidade para receber as almas de tantos seres humanos. Que, em tantos lugares – e ao mesmo tempo – estão a ser mortos, – assassinados – pela tortura e pelo terrorismo ou dizimados pela doença e pela fome… Mas, quanto a ti, terminou, garantindo-me que, em breve, vai pedir ao São Pedro que lhe leve a despacho o teu processo…

Em resumo, do que me disse Nossa Senhora, ficou-me a certeza, – com fundamento na garantia dada por Deus – que, em qualquer momento, vai despachar o meu processo… e quanto às razões que, no fundo, são a verdadeira causa não só da demora mas de tudo o que de mau está a acontecer no mundo, é que, neste mundo – em que, por graça de Deus, – tudo muda e se repete, harmoniosamente, só não muda e permanece – por obra do Demónio e sempre igual a si mesma – a natureza malvada da condição humana.
Da mesma opinião, a Virgem, recordou também que, ainda há pouco tempo – há cerca de 2.000 anos, – Deus, Nosso Senhor pediu a Jesus Cristo, para vir à Terra tentar pôr um ponto final na tremenda desordem, em que os homens a tinham posto… E Jesus veio… mas, muito novo ainda, bondoso por natureza e sem experiência da vida terrena, quando o agrediam, oferecia a outra face… e tomava ainda outras atitudes – que ninguém antes dele tinha tomado neste mundo – …perdoando sempre a quem o ofendia, curando doentes incuráveis, restituindo aos cegos a visão… ou mesmo, ressuscitando pessoas que tinham falecido, em suma, fazendo milagres, prègando e praticando o amor, a tolerância, a bondade, o perdão… O resultado foi terem-no moído com pancada e no fim pregaram-no numa cruz entre dois ladrões.

…Agora, o Pai, ao tentar – pressionado por São Pedro – resolver a crise da falta de espaço no Céu, pediu outra vez ao Filho para vir novamente à Terra – prègar, arranjar mais discípulos, fazer mais uns milagres, deixar-se novamente agredir e voltar a dar a outra face, enfim, ver se podia, mais uma vez, tentar fazer alguma coisa pela Paz, pela Justiça e, sobretudo, pelo amor de cada ser humano a Deus e aos direitos e à liberdade dos seus semelhantes.
…Mas Jesus que não tinha esquecido as agressões de que ainda eram visíveis na testa as marcas mal cicatrizada dos espinhos… nos pés e nas palmas das mãos furadas pelos pregos – respondeu-lhe:
Foda-se, Pai! Vá lá você! Quero que os gajos vão p´rá grande puta que os pariu… Cabrões… Da outra vez, o Pai mandou-me ir à Terra e ser bom… E eu fui… Mas ir lá outra vez? Isso não Pai. Não vou… Quero que eles se fodam…

Estas foram as palavras que a Virgem Maria me disse (em segredo…) ter ouvido a Jesus: E acrescentou ainda que, para além do engarrafamento, no Supremo Tribunal do Céu, os julgamentos estavam atrasadíssimos…

Os Padres Confessores são poucos e estão muito velhos… – há cada vez menos vocações… e os restam estão cheios de trabalho:- têm que ouvir, “em confissão”, as almas, à medida que vão chegando ao céu; consultar os registos dos pecados, de cada uma, ouvir os ofendidos, as almas das testemunhas, elaborar a Especificação e o Questionário… e, remeter de seguida o processo ao São Pedro com vista ao Julgamento Final de cada Fiel Defunto.
Acontece porém, que tal como o trabalho dos Juízes nos Tribunais da Terra é muito dificultado pelos segredos de Justiça e prisões preventivas que é foro sagrado do Ministério Público… nos Tribunais Celestes o que perturba o trabalho dos Padres são, sobretudo, as diferentes formas de suborno:- as missas por alma dos defuntos e as dádivas à Igreja dos devotos pecadores para comprar as “indulgências” do Senhor…
…E isto, só no que respeita aos pecadilhos mais vulgares, do género das penachadas extraconjugais ou ir a bares, “só para homens”, às escondidas, “espalitar” os dentes nas pilas de desconhecidos… em suma, os pecados miúdos… Porque quanto ao crime grosso, nos quais, – toda a gente “sabe” – está metida muita “massa”, ficam no “esquecimento” por imposição do poder laico ou do próprio Vaticano. Resultado: há bichas e bichas de almas que aguardam chamada, no Purgatório, que corresponde na Terra, à Prisão Preventiva, sem culpa formada, cujo fim – tal como a morte – e como na Terra – só Deus sabe quando vai chegar.
É certo que o São Pedro é hoje, também, uma espécie de Procurador-geral dos Tribunais Siderais, funções que acumula com as de Director Geral da Santa Inquisição. Como acontece cá em baixo:- Tem tudo na mão… Mas quanto ao resto (o peixe miúdo…), não: - as Santas por exemplo, noutro tempo, quando o S. Pedro lhes pedia, ajudavam nas Igrejas, nos conventos, em suma onde era preciso… agora, não… estão-se cagando… Sindicalizadas na Inter Celestial – estão quase sempre de baixa, por doença, a receber subsídio ou de assistência à Sagrada Família... Fazem greve, andam na “boa vai ela”, em manifestações, aos berros, na justa luta… é uma rebaldaria.

…Velho, muito doente – sabendo agora, pela Virgem Maria que Deus me vai libertar, em qualquer momento –, enchi-me de coragem, perdi a vergonha e resolvi pôr-lhe as minhas dúvidas, os meus receios, o medo do que me irá acontecer quando a morte vier e disse-lhe:- Mãe. Tu concebeste-me sem pecado. Não me pariste. Sou teu filho por graça de Deus… Eu sei… O que não sei é... Diz-me Mãe: Eu tenho Fé e Acredito em Ti. Mas Tu existes, Mãe? Ou só te vejo em sonho? E Deus existe?

A virgem olhou-me nos olhos e depois disse:- Meu Filho, Vou-te contar uma história verdadeira…

 
salvadorprata@netcabo.pt

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